December 31, 2005

Se...

Se eu fosse uma ave, fugia
Para onde fosse Paraíso,
Para onde fosse Primavera,
Para onde fosse Beleza.
Perdia o meu ser,
Em cada pedaço de mim.
Encontrava chuva, que arrastava comigo,
Mas não eternamente...
Ah! Se eu fosse uma ave,
Ia fazer brilhar tudo o que via,
Ia poder chorar tudo o que arde...
Mas ia achar, a fraqueza de uma ave
Reflectida em mim mesmo
Como um espelho, ou um lago
Onde os cisnes nadam sem vontade
E esperam a morte a cantar.

Entra em silêncio... por favor!

Entra em silêncio, por favor...
Na minha vida, sem nada quereres saber
Nada te perguntarei... serei apenas o teu anjo zelador
E ficarei radiante a contemplar o teu Ser!
Enche a minha alma e a minha vida de cor,
De desejos e sentires de um só querer
Abraça, silenciosamente, esta a minha dor
Neste momento em que sinto o meu rochedo tremer...
Agora, sem rumo parece que vasculho
As razões deste meu barulho
As razões que me fizeram levantar...
Em silêncio vegeto em divagações
Tentando colar os pedaços que restam de dois corações
Que sangram, sem ninguém ter coragem para questionar!...

December 27, 2005

Imaculada

Guerreira da vida sou
Lutadora de um ideal
O mundo assim me tornou
Para poder vencer o mal.
Ser pássaro que já voou
Dos beirais de um portal
E nunca mais voltou
Ao seu ninho primacial.
Lutar sempre, bem queria
Para ver como me sairia
No final desta cruzada.
Adormecer um sono profundo
Feliz comigo e com o mundo
Como a Virgem Imaculada.

Sol Poente

Observo as marcas do mar na areia
E as lágrimas correm pela minha face
O sol poente parece-me uma odisseia
Que adormece lentamente o meu impasse.
Teço amorfamente a minha teia
E espero que o tempo passe e repasse
E seja uma subtil panaceia
Que edifica um esperado desenlace.
A lua contempla e vê o meu sofrer
Nesta agonia de tanto querer
Que me lança na morbosidade.
Observa o meu íngreme desvanecer
Sopra o meu pensamento para o embevecer
E me esquecer desta terrível saudade.

Amor

Que sentir estranho e enigmático
Que o meu peito sente com fulgor
E me torna de tal forma estático
Como se fosse indolor...
Sentimentos hilariantes e pouco fleumáticos
Que dão à vida uma cor
Pedaços fúlgidos, hieráticos
A que chamamos de amor.
É uma condição sem rumo
Que não desaparece com o fumo
E atenua uma distância
Salpica os momentos tristes,
Enriquece os mais felizes
Transportando-nos para a infância.

Memórias...

Procurei-te nos meus sonhos, nas minhas memórias
Mas nada encontrei, a não ser resquícios da tua presença
Éfémeros como as ilusões que nascem com o amanhecer...
Parei na minha vida, contei imensas histórias
Do tempo que agora sou e aquilo que fui à nascença
Sentei-me à sombra do passado e esqueci-me de viver...
Senti-me perdida no espaço e no tempo do meu ser
Viajei por caminhos estranhos que me fizerem parar
Ruelas do meu mundo que acentuaram o meu sofrer
Abalando muitas vezes o meu acreditar!
Hoje, não mais tenho medo de morrer
Nas batalhas que travo neste meu longo caminhar
Jamais esquecerei que eu só posso receber
Se eu souber, incondicionalmente, dar!

Por isso, não deixarei de lutar!

December 23, 2005

Sonhos...apenas sonhos!

Sonhos, apenas sonhos permancem
nos retalhos de uma vida perdida
por entre os braços ávidos das árvores tecem
fragmentos de uma morte lida...
Quem são afinal, que entristecem
a mágoa de uma ave sofrida
que nos rochedos cinzentos enlouquecem
a voracidade tenaz da despedida?
Sonhos, sonhos... apenas isso!
Nada mais do que aquilo que está omisso
na vontade eterna que nos desespera.
Desejos ocultos que nos fazem viajar
em trilhos tão grandes, quanto o mar...
na ilusão de uma outra esfera!

Eternamente tua...

Rompi ventos e amanheci outroras
Chorei fogo de lágrimas estendida
Em outros tempos de frágeis auroras
Madrugadas de uma manhã perdida!
Voei para longe sem as minhas esporas
Abracei sorridente a minha ferida
Que sangrou pela calçada onde moras
Em silêncio sem se mostrar sofrida.
O tempo foi cruel e ensinou-me a pensar
Neste interminável caminho do meu andar
No qual apenas observo a lua...
Hoje, sem mágoas volta a mendigar
Na esperança de poder encontrar
Uma aparição, eternamente tua...

December 20, 2005

Poeta da Alma

Pensei que não podia deixar de escrever
Nuances de um sonho mantido
Que surge na minha mente a correr
Galopando eternamente sem sentido.
Peguei na caneta e deixei-me envolver
Com a poesia do meu espírito absorvido
Em outros tempos em que não conseguia ler
Porque na vida, tudo tinha lido.
Poeta da alma, eu pensava ser
E em toda a verdade do saber

Escrevia tudo aquilo que sentia...
Até que um dia, sem querer
Descobri que a razão do meu sofrer
Era porque até a própria vida me mentia...

Não há longe, nem distância

Hoje, meu Deus, chorei por ti
lágrimas de uma doce saudade
de um vazio estranho que senti
que me lançou na morbosidade.
Hoje, meu Deus, ainda não li
nas estrelas, a minha verdade
que ilumina tudo aquilo que vivi
e acende este fogo que em mim arde!
Oh! Derradeiros pedaços do meu Ser
amarrem-me que me estou a perder
embalada nesta louca dissonância....
Prendam-me a esta vida para te ver
Mesmo que não seja para te ter
Neste abismo onde "não há longe, nem distância"

December 19, 2005

Ecos do Silêncio

Ecos do silêncio da minha alma em lamento
São sufocos de mágoas e tristezas sem fim
São reflexos do meu pranto num momento
Estilhaços que sinto dentro de mim.
Sorrio, mesmo que seja meu intento
Deixar de me sentir assim
Castigando ainda mais o meu espírito desatento
Quando caminha sem o seu querubim.
Este é o curso do saber
A leitura da vida que se deve ter
Quando se vive de braço dado com o erro.
Estes são os espinhos do viver
Nostalgias de um simples morrer
Que culminam na hora do meu enterro!

Perguntei ao vento

Perguntei um dia ao vento
O porquê deste meu lamento
Se eu não consigo sossegar
Neste meu triste e parco andar…
Perguntei-lhe por um momento
O porquê deste meu sofrimento
Que ainda me faz divagar
Na saudade de contigo estar…
E em silêncio respondeu
Olhando para o mundo meu
E afagando o meu lamentar:
“Espera que o Senhor do Tempo
Te tire desse contratempo
Porque eu, nada posso mudar!”