February 28, 2006

Queria escrever uma carta...

Eu queria escrever-te uma carta Amor,
Uma carta que dissesse
Deste anseio de te ver
Deste receio de te perder
Deste mais que bem querer que sinto
Deste mal indefinido que me persegue
Desta saudade a que vivo todo entregue...
Eu queria escrever-te uma carta Amor,
Uma carta de confidências íntimas,
Uma carta de lembranças de ti,
De ti,
Dos teus lábios vermelhos como tacula
Dos teus cabelos negros como diloa
Dos teus olhos doces como macongue
Dos teus seios duros como maboque
Do teu andar de onça
E dos teus carinhos
Que maiores não encontrei por ai...
Eu queria escrever-te uma carta Amor,
Que recordasse nossos dias na capopa
Nossas noites perdidas no capim
Que recordasse a sombra que nos caia dos jambos
O luar que se coava das palmeiras sem fim
Que recordasse a loucura
Da nossa paixão
E a amargura da nossa separação...
Eu queria escrever-te uma carta Amor,
Que a não lesses sem suspirar
Que a escondesses de papai Bombo
Que a sonegasses a mamãe Kiesa
Que a relesses sem a frieza
Do esquecimento.
Uma carta que em todo o Kilombo
Outra a ela não tivesse merecimento...
Eu queria escrever-te uma carta Amor,
Uma carta que ta levasse o vento que passa
Uma carta que os cajus e cafeeiros
Que as hienas e palancas
Que os jacarés e bagres
Pudessem entender
Para que se o vento a perdesse no caminho
Os bichos e plantas
Compadecidos do nosso pungente sofrer
De canto em canto
De lamento em lamento
De farfalhar em farfalhar
Te levassem puras e quentes
As palavras ardentes
As palavras magoadas da minha carta
Que eu queria escrever-te amor.
Eu queria escrever-te uma carta...
Mas, oh, meu Amor, eu não sei compreender
Por que é, por que é, por que é, meu bem
Que tu não sabes ler
E eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também!

No país dos sonhos

Às vezes não falamos a mesma linguagem
Às vezes não pensamos de forma igual
Somos diferentes, numa mesma viagem
Esperando em conjunto o mesmo sinal.
Às vezes, sentamo-nos na mesma paragem
À espera que tudo aconteça de forma natural
Acreditando que possa haver uma viragem
Que nos transporte para um país tal e qual.
Um país diferente, onde tudo acontece
Onde tudo existe, onde nada esmorece
Onde tudo parece ser permissível…
É o lugar onde quero eternamente viver
Onde quero deixar a minha alma, quando morrer
Pois no país dos sonhos, tudo é possível!

Sonhos, que tornam a alma navegável

Ao olhar para esta vida tão cruel
Pensei que tudo poderia ser diferente
Que o sol poderia ser de mel
E o paraíso um sol nascente…
A lua seria feita de papel
As estrelas botões de rosa latente
Que formavam um brilhante anel
No céu, que toda a gente sente!
Mas o mundo não é assim!
E não consegue pôr um fim
Naquilo que é infindável…
Por isso invento estas histórias
Que mantêm vivas as memórias
De sonhos, que tornam a alma navegável!

February 26, 2006

Detalhes...

Detalhes tão pequenos de nós dois recordo
Estão em mim, a toda a hora, desde que acordo
E durante muito tempo em tua vida vou viver
Pois são coisas muito grandes para esquecer…
Na longa estrada do tempo que sempre abordo
Se alguém me disser que não me amas, discordo!
Eu sei que esses detalhes vão desvanecer…
Mas um sentir assim não pode simplesmente morrer...
No tempo que transforma todo amor, em quase nada
Pensando pisar firme a linha da liberdade.
Não adianta tentar caminhar por uma outra estrada
No espaço que desvanece a nossos pés, como fumaça
Se estiveres morto, abraçado a essa saudade
Não adianta passear sozinha numa praça...

February 25, 2006

Retalhos de um sentir

Coração que silencias a minha dor
neste impasse de tanto querer
sentir o teu cheiro e o teu sabor
nas entranhas de um amanhecer...
Coração que sente assim um amor
no silêncio de um desejo crescer
abandonado, perdido e sem cor
nas primaveras de um viver...
Fustiga a luz de não saber para onde ir
se morrer, lutar ou simplesmente fugir
de um sentimento que quero ter!
Fecho a minha dor numa gaveta
que permanecerá comigo numa valeta
com os retalhos de um sentir que não sei entender!

February 20, 2006

África Minha....

Esta saudade a que o meu espírito vive entregue
De um lugar onde o meu corpo esteve ausente
Faz-me divagar e sem que com isso negue
Um desejo que invade sem rédeas, a minha mente!
Esta vontade de sentir, que se encarregue
De dar brilho ao meu regresso ciente
Que diariamente a árvore deste devaneio regue
Para que dela brote, o seu fruto latente!
Divago em caminhos longínquos desta terra distante,
Alimentando o meu pensamento constante
Dando forma e rumo a esta linha...
Quero ir... e libertar-me assim!
Poder beijar o chão desta terra, sim!
Abrir os braços e gritar “África Minha”!

February 14, 2006

Eu Princesa

À noite, deitada no meu divã
Relembro algumas histórias passadas.
Pedaços do ontem, do hoje e do amanhã
Que se misturam em histórias fragmentadas…
Nos fragmentos da minha alma vã
Onde os lírios estão com as pálpebras fechadas
Fugimos do fruto proibido do amor (a maçã)
Como quem foge de uma batalha, por não ter espadas…
E então num amanhecer sombrio
Onde os mortos desfalecem em terreno baldio
Encontro-me nos altos castelos da minha torre!
Eu, Princesa, perdi o meu trono…
E por todos sinto o abandono
Mas acredito que o verdadeiro amor, nem com a morte morre!

February 13, 2006

Os versos que te fiz...

Os versos que para ti fiz
São linhas soltas no ar
São momentos em que te sinto feliz
E a acreditar...
São a fonte da alma, o chafariz
Do qual jorram flocos do amar
Pedaços, segundos em que sorris
E te enches de coragem p'ra voar!
São estes os versos que escrevi
E com os meus lábios li
Palavras ainda a nascer...
No sabor dos teus lábios ficaram
Recordações que desde então gritaram
A essência daquilo que te quis dizer...

Perdão...

Perdoa não saber olhar
Perdoa não saber sorrir
Nunca ninguém me ensinou a amar
Mas apenas como fugir.
Perdoa não saber sonhar
Perdoa não saber mentir
Nunca ninguém me ajudou a levantar
Mas todos me fizeram caír...
Peço-te assim, perdão
pelo meu pobre coração
que vive num mundo sem cor
Descobre um lugar para mim
se quiseres, mesmo assim
dar-me vida com o teu Amor!

February 12, 2006

Adormecer

Olho para ti meu menino
Olhos de um simples querer
Sinto o teu coração pequenino
Como só eu sei fazer.
Afago o teu rosto quentinho
Para que possas adormecer
Com um eterno beijinho
Ao longo do teu crescer.
É imenso este Universo,
E não posso cantá-lo em verso
Pois trairia a sua essência.
Fecha os olhos devagarinho
Descansa como um anjinho
Numa brisa de inocência.

Num outro lugar...

Sentada dentro do meu EU, lá no fundo
Oiço o eco daquilo que estou a pensar:
“Será que existe um outro lugar no mundo
Onde eu possa eternamente morar?”…
Um lugar onde nada visse a não ser magia
Onde pudesse esvaziar a minha derrota
Onde nada ouvisse a não ser a maresia
Um lugar apenas, para me sentir morta!
Morta de pena, de tristeza e de cansaço
Mas viva no sentir, no sorrir e no sonhar
Onde pudesse beber a água de um regaço
Como o soro para a minha dor apaziguar!
Que lugar é este que procuro sem intemperança
Que faz parte de mim e do meu divagar…
Dos meus sonhos perdidos, da minha vida ainda criança
Que me chama, sem nada me perguntar?
Mas quando saio deste pensamento do meu Ser
A vida continua lá fora… a sorrir…
As amarras que continuam a me prender
Intensificam o meu desejo de querer simplesmente, partir!

February 10, 2006

Ah! Se eu pudesse...

Ah! Se eu pudesse um dia sorrir
Sem pedir um sorriso de volta…
Se eu pudesse um dia mentir
Sem ter uma mentira envolta…
Ah! Se eu pudesse um dia amar
Sem ter um amor que me sufoca…
Que pudesse simplesmente abraçar
O meu faminto desejo em rédea solta…
Seria então uma Princesa
E dançaria na alegria e na certeza
Dentro de um coração ateu!
Seria então uma Cantora
Como fui em momentos de outrora
Numa pauta de uma música que nasceu!

Voz da alma

Por momentos ouvi a voz da tua alma
Nos limites de uma noite de breu
Escutei silenciosamente a tua calma
No reencontro de duas estrelas no céu…
“Voamos?” – perguntaste-me sorrindo
Olhando o vazio dos meus olhos em água
À espera que o vento bramindo
Limpasse do meu coração, aquela mágoa!
“Tenho medo!” – sussurrou o meu coração
Mas o eco espalhou o meu pensamento
Ecoando em toda a ampla dimensão
As lágrimas ocultas do meu lamento!
Sentamo-nos juntos o olhar o sol nascer.
Que irradiava luz e esperança num acreditar
Num segundo efémero de um viver
Que levitou, antes de conseguir voar!

February 09, 2006

O ultimo adeus

Oh! Madrugadas em que disse não
na imensidão de uma vida passada
fechando janelas de uma ilusão
passado cortado por uma espada.
Oh! Manto vermelho estendido no chão
no silêncio de uma porta fechada
chorando o bater de asas de um coração
que partiu sem dizer nada.
Acabo todo este sofrimento
ao som de um lenço branco ao vento
deleitando-me em sonhos meus...
Apago as velas desta história
que avivam a memória
da nostalgia do último adeus!...

February 07, 2006

As palavras que um dia te direi...

Um dia serei capaz de te dizer
Receios e medos que sempre senti
Metáforas que ternamente envolvem o meu ser
Trocadilhos de uma vida, que já vivi.
Serei capaz até de adormecer
No silêncio das mágoas e feridas que já li
No meu livro que um dia vai ser
O túmulo de quem jamais sorri!
Só queria abraçar a verdade
Panaceia da minha saudade
Luz e sombra do mundo que criei.
Enrolar-me nos teus braços
Esvaziar todos os meus cansaços
Nas palavras que um dia te direi!

Coração que sangra...

Nos apertados e sombrios corredores
Das avenidas de uma vida sem cor
Abro todas as portas dos horrores
E procuro o meu perdido amor…
As saudades e os desejos amadores
De um coração que outrora foi pintor
Amordaçam todos os sentires predadores
Desta carne que apodrece sem sabor…
Encosto-me às paredes desta vida
Jamais deixarei de me sentir traída
Nos antros silêncios da desilusão!
Caminho exausta, só e arrependida
Por ter procurado apenas uma saída
Que deixou a sangrar-me o coração!

Bastidores da vida

Nos momentos sombrios da minha vida
Revejo todos os papéis que representei
Página a página de uma cena já lida
No palco onde vezes sem fim chorei…
Neste teatro, já me senti traída
Pelas deixas que até então decorei
Fui amada, venerada e esquecida
Por todos aqueles que humildemente, amei…
Hoje, nos bastidores da minha alma
Sem pressas, com muita calma
Ensaio em silêncio as últimas linhas…
Que me mostram tudo aquilo que não aprendi
Tudo aquilo que não li
E que estava escrito nas entrelinhas!

February 03, 2006

Caravela

Fugaz viagem que a minha alma espera
Num caminho que há-de vir
Num outro mundo, numa outra esfera
Jamais posso deixar de sorrir.
Uma nova vida, uma nova era
Vislumbra o meu devir
Como se fosse uma quimera
Ou apenas um outro sentir.
Uma viagem de prazer e alucinação
De loucura e exaltação
Como uma pintura numa tela.
Um passeio tão bonito
Ao redor do infinito
Dentro de uma caravela.

Um lugar só teu

Neste lugar que é só teu,
Permaneci um pouco para pensar…
Que passado é este que não morreu
E que continua eternamente a te chamar.
Senti que em ti ele já viveu.
E, por isso, te faz recordar
de uma vida que outrora ocorreu
Da qual não te podes apartar.
Faz parte de ti e do teu Ser
Não deixar nunca morrer
Aquilo que te faz continuar…
Procurando silenciosamente que o entardecer
Envolva o teu simples querer
Na imensidão de um Acreditar…

Ponte da etenidade

Voei alto, na minha cidade
Para além do entardecer…
Procurei com alguma vaidade,
Deixar para trás o meu Ser.
Reina hoje, no meu peito a saudade,
O desespero e a alegria de viver
Que me elevam à ponte da eternidade
E iluminam o meu amanhecer.
São retalhos amordaçados no ar
Alquimias que envenenam o mar
Para que não possamos esquecer...
São lições que vou arquivando,
Pedaços que vou juntando
De uma vida que passa a correr.

February 01, 2006

Um anjo caído do céu

Perfeito luar em botão de rosa
jorrando estrelas em mar ausente
que caem em breve e voluptuosa
esperança passada e hoje presente.
O manto da noite aquece a prosa
na pena do poeta que apenas sente
sentires que ninguém em forma airosa
escreve... com um espírito ausente.
Um anjo caído do céu
sem asas, dele desceu
e sentou-se no firmamento.
Abriu os seus braços em flor
pintou o universo de uma cor
obnubilando a sua alma em lamento!

Folha de papel

A teu lado quis adormecer
com o olhar vazio, em fragmento
o teu rosto lentamente a desvanecer
nos horizontes imaginários do meu pensamento.
A teu lado quis viver
dar alma e cor a um sentimento
sentido, efémero para o meu ser
que o saboreia como alimento.
Sinto o doce sabor de maresia
nos meus lábios que em heresia
cortam o sabor a fel
Cravando pedaços da verdade
em cada pedaço da saudade
nas lágrimas invisíveis, de uma folha de papel!